MP acha grande quantia de dinheiro em contas de alvos na CPI da Merenda

03/11/2016 18:40

Eles são ex-assessores do presidente da Assembleia Legislativa de SP.
Fernando Capez e ex-auxiliares negam qualquer irregularidade.

 
 
 

O Ministério Público encontrou grande quantia de dinheiro nas contas de dois ex-assessores do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fernando Capez ( PSDB).  Os dois, assim como o deputado, são investigados na CPI da Merenda e sempre negaram ter recebido dinheiro da Coaf, cooperativa investigada por fraudes nos contratos com o governo estadual e prefeituras.

Delatores contaram aos procuradores que Jeter Rodrigues e José Merivaldo dos Santos  pediram propina da Coaf para ajudar na liberação de um contrato de compra de suco de laranja para as escolas estaduais.

No depoimento, a que o SPTV teve acesso com exclusividade, o procurador questiona Merivaldo: 'o senhor teve uma movimentação a mais em 2015, só da ordem de R$ 500 mil". Merivaldo responde: ‘Eu não tive.”  O procurador pergunta: ‘o senhor ganha quanto por mês?' Merivaldo responde: “hoje eu ganho líquido R$ 16 mil.”

O procurador então quer saber se Merivaldo 'tem  como arcar com despesas da ordem R$ 680 mil, já que nega o recebimento do dinheiro. Merivaldo diz: 'eu tenho que ver isso aí.'

Para Jetter Rodrigues, o procurador diz: 'Nós estamos vendo aqui que o senhor em 2014 é pouco depósito em dinheiro. Só R$ 1.400, mas no ano de 2015 já é bastante: R$ 34 mil em dinheiro. Jeter responde: 'eu desconheço essa conta'.

O procurador insiste: “além disso, tem uma diferença aí de R$  122 mil. De onde vem esse dinheiro, alguém emprestou para o senhor, alguém... O senhor tirou debaixo do colchão?
Jetter responde: “eu desconheço esses R$ 122 mil.  O procurador insiste: o senhor nunca recebeu um depósito de mil reais na sua conta?  'Eu não me recordo', diz Jeter.

Como os ex-assessores disseram que não são os donos dos valores, os investigadores não conseguiram responder uma questão essencial que é para onde foi o dinheiro.

O SPTV apurou no Ministério Público que novos dados bancários, que ainda não chegaram, poderão esclarecer esse mistério.

CPI 
Três deputados da CPI da merenda estiveram  nesta quinta no Ministério Público, para uma reunião fechada com o Procurador Geral da Justiça, Gianpaolo Smanio. Eles pediram acesso aos depoimentos de três delatores que se negaram a falar na CPI.

A assessoria do deputado Fernando Capez disse que a Assembleia Legislativa de São Pauloinstaurou procedimento administrativo para apurar a conduta dos servidores citados na reportagem.  E que todos os depoimentos, até agora colhidos, inocentaram o deputado Fernando Capez e disseram que o seu nome foi usado.

A nota diz ainda que cabe aos titulares das contas as explicações devidas.

O advogado de Jetter Rodrigues lamentou o que chamou de vazamento seletivo do conteúdo da audiência. E disse que as movimentações na conta do cliente dele referem-se a depósitos realizados para pagamento de uma reforma em casa. Disse ainda que o dinheiro é de Jetter e da mulher dele.

Histórico
A CPI da Merenda foi criada em 30 de maio para investigar a suspeita de fraude do fornecimento de alimentos para escolas estaduais. O pedido de instauração de CPI para investigar contratos relacionados ao fornecimento de merenda escolar foi feito pelo PSDB no dia 10 de maio, logo após os estudantes ocuparem o plenário da Casa. Em menos de 24 horas, cerca de 70 deputados assinaram – mais que o dobro do exigido (32).

Dos nove deputados que formam a CPI, oito são da base governista. São eles: Barros Munhoz (PSDB), Marcos Zerbini (PSDB), Estevam Galvão (DEM), Adilson Rossi (PSB), Jorge Caruso (PMDB), Gilmaci Santos (PRB), Coronel Camilo (PSD) e Delegado Olim (PP).  Somente Alencar Santana Braga (PT) é da oposição.

De acordo com o partido, o texto da oposição era limitado à Secretaria de Educação. Na proposta dos tucanos, serão investigados também os contratos com as prefeituras, o envolvimento de agentes públicos e agora, as empresas.

A oposição, que tentava emplacar requerimento sobre o tema desde fevereiro, disse que se viu obrigada a assinar a CPI governista para poder intervir na investigação, embora tema que a comissão seja "chapa branca" – foque nas prefeituras para blindar o governo de Alckmin.

 
 
 
Wallace LaraDa TV Globo, em São Paulo