A História da Guerra de Canudos
A Guerra de Canudos durou um ano e mobilizou mais de 10 mil soldados oriundos de 17 estados brasileiros e distribuídos em 4 expedições militares. Estima-se que morreram mais de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da cidade. Na fotografia ao lado, D. Rita Ramos com armas utilizadas na guerra. |
Foto: Antonio Olavo, 1990. |
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No dia 19, a tropa chega a Uauá (BA). O historiador Manoel Neto afirma: "Até alcançar Uauá a trôpega tropa marchou penosos 150 quilômetros. Passaram pela Lagoa do Boi, Caraibinhas, Mari, Mucambo, Rancharia, o Tenente Pires Ferreira e seus enfermiços e diarréicos subordinados. Enfrentando dificuldades no comando, porquanto estremecido com o Alferes Coelho e o próprio dr. Antonino, o chefe da expedição cometia outros erros perigosos: exauria a tropa numa marcha não planejada e em terreno sobejamente conhecido pelo inimigo, isolava-se de apoio estratégico valioso, encaminhava-se para combater um contendor desconhecido, obscuro. Tinhosos, como depois se comprovou, os combatentes de Bello Monte espreitavam..." (Neto, Manoel. De Juazeiro a Ladeira da Barra: A Inusitada Trajetória da Expedição Pires Ferreira in Revista Canudos v.1, n.1 1997 UNEB – CEEC ) |
21 de Novembro - 1896
No amanhecer deste dia a Expedição encontrava-se ainda em Uauá (BA), quando chegam centenas de conselheiristas entoando cânticos, tendo a frente a bandeira do Divino e uma grande cruz de madeira.
"Não pareciam guerreiros símbolos da paz portavam, a bandeira do Divino e ao som de Kyries marchavam, Levando uma grande cruz, de longe se anunciavam."
(Zé Guilherme)
Vinham como quem vinha para reza, ou para a guerra. Foram recebidos a bala pelos sentinelas semi-adormecidos e surpresos. Era a guerra. Manoel Neto assim descreve: "Estabelecia-se, sangrento, o 1º fogo previsto pelo Conselheiro, e a pacata Uauá transformava-se em violento território de combate. O próprio Tenente Pires Ferreira descreve o ataque destacando a "incrível ferocidade" dos assaltantes e a forma pouco convencional como organizavam suas manobras, isto é, usando apitos. A celeridade e a rapidez com que a luta se deu propiciou vantagem inicial aos conselheiristas. Adentraram ao arraial onde ocuparam algumas casas. A lógica, entretanto, prevaleceu. Armados e municiados com equipamentos mais modernos e letais, os soldados do 9º Batalhão de Infantaria impuseram pesadas baixas as forças belomontenses. A crueza do combate foi inegável, sendo que o uso de armas como "facões de folha-larga, chuços de vaqueiro, ferrões ou guiadas de três metros de comprimentos, foices, varapaus e forquilhas, sob o comando de Quinquim Coiam" utilizados em lutas de corpo a corpo produziam cenas dantescas. Foram entre 4 e 5 horas de pânico, sangue, horror e gestos de bravura e pânico. Contabilizadas as baixas de ambas facções, os números determinava a vitória militar das tropas governamentais. No relatório oficial, Pires Ferreira informa que pereceram na batalha, dentre as hostes conselheiristas "cento e cinqüenta, fora os feridos". (Neto, Manoel. idem ) Passadas várias horas de combate, os canudenses, comandados por João Abade, resolveram se retirar, deixando para trás um quadro desolador. |
Apesar da aparente vitória, a expedição estava derrotada, pois não tinha mais forças nem coragem para atacar Canudos. Naquela mesma tarde, saqueou e incendiou Uauá e retornou para Juazeiro, com o saldo de 10 mortos (um oficial, sete soldados e os dois guias) e 17 feridos. "Em Juazeiro ao chegarem Houve grande confusão o medo cresceu na mente de toda a população, o êxodo reatado aumentou em proporção" |
Atual praça de Uauá, local do combate |
Em Canudos, correu o boato de que os soldados tinham sido avisados por Antônio da Mota, negociante, compadre e amigo de Conselheiro. Mas estes créditos de nada lhe valeram, pois foi morto junto com todos os homens adustos da sua família numa chacina brutal e desumana. A derrota surpreendeu o governo e repercutiu negativamente na opinião púbica, mas no sertão aumentou ainda mais o prestígio de Antônio Conselheiro e cresceu muito a quantidade de pessoas que iam para Canudos. |
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No final do combate, inúmeros corpos restavam estendidos no chão, a maioria de conselheiristas. A lagoa tinha mudado de cor e de nome, desde então passou a se chamar Lagoa do Sangue. A expedição não teve mais condições de prosseguir no seu objetivo que era atacar Canudos. Estava arrasada e foi obrigada a um recuo lento e penoso, trazendo consigo um saldo de 10 soldados mortos e 70 feridos. Na volta, os soldados, maltrapilhos, com fome e arrastando consigo os feridos e os canhões, percorreram parte do caminho fustigados pelas emboscadas ardilosas organizadas por Pajeú. |
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De Queimadas segue para Monte Santo e em 22 de fevereiro, parte para Canudos. Ao passar pelo Cumbe (atual Euclides da Cunha) manda prender e humilhar o Padre Vicente Sabino por este manter relações amistosas com Conselheiro. |
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A 1ª Coluna, sob o comando do Gal. Silva Barbosa sai de Queimadas e passa por Monte Santo, composta de 3.415 homens, 180 mulheres, 12 canhões Krupp e 1 canhão Withworth 32. Na retaguarda, protegendo 750 mil quilos de mantimentos e munições, seguia o 5° Corpo de Polícia da Bahia, destacamento formado por 388 jagunços contratados no interior do Estado. A 2ª Coluna sob o comando do Gal. Cláudio Savaget, parte de Sergipe em tropas isoladas, se agrupando em Jeremoabo (BA), de onde segue para Canudos, composta de 2.340 homens, 512 mulheres e 74 crianças, inclusive duas nascidas durante a marcha. |
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28 de Junho - 1897
Depois de várias semanas de marcha, travando combates, a 2ª Coluna da IV Expedição encontra-se em posição privilegiada de ataque a Canudos, já tendo iniciado o bombardeio, quando o Gal. Cláudio Savaget recebe ordens do General Comandante Artur Oscar para socorrer a 1ª Coluna que estava em situação desesperadora, com munição esgotada e envolvida pelas emboscadas organizadas por Pajeú, que magistralmente liderava seus "guerreiros invisíveis" encurralando toda a Coluna no Alto da Favela. Savaget altera seus planos e imediatamente segue ao encontro da 1ª Coluna, salvando-a de uma derrota fragorosa.
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"Escapa, escapa, soldado Quem quiser ficar que fique Quem quiser morrer que morra |
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O Marechal Bittencourt trouxe consigo um reforço de 3.000 soldados, estabelecendo seu Q.G. em Monte Santo e efetivamente toma providencias enérgicas, conseguindo regularizar o abastecimento das tropas em combate. |
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"E chegado o momento para me despedir de vos; que pena, que sentimento tão vivo ocasiona esta despedida em minha alma, à vista do modo benévolo, generoso e caridoso com que me tendes tratado, penhorando-me assim bastantemente. São estes os testemunhos que me fazem compreender quanto domina em vossos corações tão belo sentimento! Adeus povo, adeus aves, adeus arvores, adeus campos, aceitai a minha despedida, que bem demonstra as gratas recordações que levo de vós, que jamais se apagarão da lembrança deste peregrino". (Nogueira, 1974:181) |
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Depois de várias horas de fogo cerrado, os soldados conquistam os escombros da Igreja Nova, a mais importante trincheira de defesa do Arraial. Este feito foi comemorado de forma entusiasmada, com o hasteamento da bandeira e execução do hino nacional. Mas, inesperadamente uma tempestade de balas desce sobre a praça. Vinham das ruínas, da fumaça, de tudo o que já fora destruído. Era como se viesse do nada, mas vinham, e causavam muitos estragos. Em resposta, o Exército lança 90 bombas de dinamite e muitas latas de querosene. Depois de três meses de intenso bombardeio, agora o fogo tomava conta do Arraial.
02 de Outubro - 1897
Em meio a guerra, surge por entre as ruínas um homem com uma bandeira branca. Era Antônio Beatinho, que queria falar com o general comandante e disse que lá dentro ninguém agüentava mais, a fome e a sede estavam acabando com todos. Pede pra que pudessem sair em paz. Artur Oscar lhe disse que voltasse lá e trouxesse os homens para se entregarem que ele lhes garantia a vida. Beatinho volta ao Arraial e pouco depois reaparece com um grupo de 300 pessoas: eram mulheres, crianças, e inválidos de guerra, maltrapilhos e doentes. Afirma que todos os homens restantes haviam rechaçado sua proposta de rendição e iriam lutar ate o fim. |
O acadêmico de medicina Alvim Horcades escreveu: "eu vi e assisti a sacrificar-se todos aqueles miseráveis (...) e com sinceridade o digo: em Canudos foram degolados quase todos os prisioneiros (...) levar-se homens de braços atados para trás como criminosos de lesa-majestade, indefesos e perto mesmo de seus companheiros, para maior escárnio, levantar-se pelo nariz a cabeça, como se fora o de uma ave, e cortar com o assassino ferro o pescoço, deixando a cabeça cair sobre o solo - é o cumulo do banditismo praticado a sangue-frio (...) Assassinar-se uma mulher pelo simples fato de ser o seu companheiro conivente com o que se dava - é o auge da miséria! Arrancar-se a vida a uma criancinha (...) é o maior dos barbarismos e dos crimes que o homem pode praticar". (Horcades, 1899.) |
Estima-se que mais de 25 mil conselheiristas morreram no conflito que mobilizou um contingente superior a 12 mil soldados do Exército (mais da metade de todo o efetivo nacional), na maior guerra de guerrilhas que o Brasil já viveu. |
O corpo de Antônio Conselheiro é localizado no santuário da Igreja Nova. |
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Depois de exumado, o corpo de |
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12 de Março - 1969
Inicio da chuva que em poucos dias transbordou o Rio Vaza-Barris e encheu o Açude de Cocorobó, cobrindo a velha Canudos.
https://www.geocities.ws/culturauniversalonline1/brasil_guerradecanudos.html